Laerte, como o usual.
Serviço
Exposição AUTOCHOQUE – Um Ensaio Sobre Impactos Local: Usina do Gasômetro Endereço: Av. Presidente João Goulart, 551 – Porto Alegre - RS Abertura: 6 de maio, 19h Período de visitação: de 7 a 31 de maio de 2010, terças a domingos das 14h às 21h, com entrada franca »Robert Frank
Do livro The Americans, de 1958, do fotógrafo estadunidense, Robert Frank
( Um pouco mais sobre o livro aqui (em espanhol)).
Signal 30
Um despacho da Associetad Press, de Santa Mônica, California, de 9 de agosto de 1962, informava que:
"Uns cem infratores de trânsito assistiram hoje a uma fita sobre acidentes de trânsito, como castigo às suas infrações. Dois deles foram acometidos de choques emocionais e acessos de náuseas. Aos assistentes se oferecia uma redução de 5 dólares nas multas desde que concordassem em assistir o referido filme, Signal 30, feito pela polícia de Ohio. O espetáculo mostrava ferragens distorcidas e corpos mutilados, além de gravações de gritos das vítimas." *
"Uns cem infratores de trânsito assistiram hoje a uma fita sobre acidentes de trânsito, como castigo às suas infrações. Dois deles foram acometidos de choques emocionais e acessos de náuseas. Aos assistentes se oferecia uma redução de 5 dólares nas multas desde que concordassem em assistir o referido filme, Signal 30, feito pela polícia de Ohio. O espetáculo mostrava ferragens distorcidas e corpos mutilados, além de gravações de gritos das vítimas." *
(É importante observar que, para duas gerações criadas em meio a uma apologia crescente de violência imagética, este filme deve ser entendido em sua perspectiva histórica.)
Signal 30 pode tanto ser uma referência histórica sobre as políticas de segurança no trânsito, quanto uma apologia à curiosidade mórbida e a um certo humor dissociativo estéril.
Na verdade, a decisão cabe mais a quem vê (como quase tudo na vida).
Na verdade, a decisão cabe mais a quem vê (como quase tudo na vida).
* Marshall Mcluhan: Os meios de Comunicação como Extensões do Homem. Ed. Cultrix. p.47
Um Dia depois do Fim
Cenário de Autochoque no silêncio da madrugada de 3 de Maio de 2010. Foto da inigualável Laura Cattani
Você está Doente ou já é uma Fantasma.
O início de “Você está doente ou já é uma Fantasma” como trilha para a abertura de um airbag.
Música vinda do SAÍDA DE EMERGÊNCIA, xifópago do Autochoque (para saber mais, clique aqui e aqui). A música "Você está Doente ou já é uma Fantasma" tem como musa a Varíola (doença extinta em 1980) e especula, em sua letra, sobre a possibilidade de seu retorno e as conseqüências desastrosas deste revival. Esta hipótese, lamentavelmente, não é tão absurda: laboratórios estadunidenses e russos guardam ainda amostras do vírus e, apesar de tentativas diplomáticas para que o mesmo seja extinto, um acordo neste sentido não se concretizou. Caso houvesse um surto epidêmico da Varíola, não haveria tempo hábil para a produção de vacina e, até que a mesma fosse oferecida massivamente, certamente algum conhecido seu - ou mesmo você - estaria kaput. Logo, o refrão (como toda boa canção pop deve ter) era "Você está Doente, ou já é uma Fantasma?", um diálogo sempre extraordinariamente possível na zona de luscofusco entre vivos e mortos. Este refrão acabou virando um bordão entre os Íos - por exemplo, quando alguém estava gripado e com uma péssima aparência, perguntava-se, com educação, "Você está Doente ou já é uma Fantasma?"
Para saber mais sobre o fascinante mundo das doenças contagiosas, leia A História e suas Epidemias, de Stefan Cunha Ujvari.
Crise de Abstinência.
Onze dias sem apresentar o Autochoque. Foto do último dia.
Munir Klamt e Jack Garcia. Foto da Jeanine Sehnem Gomes. Composição Munir Klamt
Destino Frágil
Élcio Rossini em Ato Sem Título (uma Performance autoinfringida por terceiros)
Durante a abertura da exposição Autochoque – Um Ensaio Sobre Impactos, Élcio Rossini propôs uma ação pública, a destruição de sua frágil escultura, processo ainda em curso. Portanto, convidamos aqueles que tenham atração por proposições de Arte Contemporânea (ou o frisson do vandalismo) que visitem o Gasômetro o mais breve possível.
Escultura Moderna.
Escultura do Senhor John Chamberlain
John Chamberlain é um escultor estadunidense que, desde a década de 50, vem trabalhando com esculturas de carros amassados. No período inicial de sua produção, suas esculturas evocavam tridimensionalmente o Expressionismo Abstrato, que bombava na America Nortista e, por conseqüência, no globo terrestre no período. Desde então, este senhor vem se dedicando às mesmas esculturas (até onde sabemos), com algumas variações (sendo algumas de gosto bem discutível - vide exemplos A, B e C).
Escultura Moderna, outra vez.
Música Escultura Moderna no Espetáculo Autochoque. Foto Munir Klamt.
Nada mas insípido, inodoro e incolor do que colocar uma letra desvinculada da música. Mas eu gosto efetivamente de água. E também, esta é o Faroeste Caboclo da Ío, então acredito que a mesma deva ser explicitada para todo mundo poder cantar junto. De modo geral, o autor se equivoca ao tentar ressaltar a poesia (ai, ai) de sua criação, terreno potencialmente egóico, uma vez que a letra existe em um conjunto que não é seccionável (no caso da Ío, menos seccionável ainda, pelo fato das performances, iluminação e cenário ecoarem as letras). Feita esta autocrítica, vamos à contradição: Escultura Moderna é uma música subdividida e retomada em quatro fragmentos, que são versões diferentes da música original, durante o espetáculo Autochoque. E aborda os momentos anteriores e posteriores a um acidente automobilístico.
PRESTE ATENÇÃO: ESQUEÇA TUDO QUE EU FALAR.
MINHA AUTOCRÍTICA ME PARALISA. COMO UMA FOTO, UM GRITO OU O FUNDO DO MAR MOVO-ME LENTAMENTE, COM OUTRO CORPO, EM OUTRO LUGAR.
MINHA AUTOCRÍTICA ME PARALISA. COMO UMA FOTO, UM GRITO OU O FUNDO DO MAR MOVO-ME LENTAMENTE, COM OUTRO CORPO, EM OUTRO LUGAR.
VOCÊ TERIA AINDA, PROVAVELMENTE, 21 000 DIAS.
... MAS O TEMPO PASSA MAIS RÁPIDO QUANDO ENVELHECEMOS, E ISSO ACONTECE CADA VEZ MAIS RÁPIDO. ESTOU SEMPRE NO LUGAR CERTO, NO LUGAR QUE DEVERIA ESTAR. NO MOMENTO EXATO. MINHA CABEÇA NÃO PARA DE PENSAR EM SUBSISTEMAS, EM COMO EU DEVO ME SALVAR
... MAS O TEMPO PASSA MAIS RÁPIDO QUANDO ENVELHECEMOS, E ISSO ACONTECE CADA VEZ MAIS RÁPIDO. ESTOU SEMPRE NO LUGAR CERTO, NO LUGAR QUE DEVERIA ESTAR. NO MOMENTO EXATO. MINHA CABEÇA NÃO PARA DE PENSAR EM SUBSISTEMAS, EM COMO EU DEVO ME SALVAR
VOCÊ PREFERIA QUE EU DISSESSE QUE ESTÁ TUDO BEM, TUDO NO DEVIDO LUGAR?
O AR AJUDA O SANGUE A COAGULAR. O SISTEMA NERVOSO CENTRAL ESTÁ CONTROLANDO, DEFININDO PRIORIDADES. UMA MÁQUINA SE AUTOCONSERTANDO, PARTE POR PARTE...
O AR AJUDA O SANGUE A COAGULAR. O SISTEMA NERVOSO CENTRAL ESTÁ CONTROLANDO, DEFININDO PRIORIDADES. UMA MÁQUINA SE AUTOCONSERTANDO, PARTE POR PARTE...
HÁ UMA FORTE DOR QUE EU NÃO SINTO E MINHA CABEÇA CONTINUA GIRANDO.
FAÇA O QUE FIZER, VOCÊ TEM POUCO TEMPO A PERDER
MEUS SONHOS SÃO TODOS VIOLENTOS, COM ANIMAIS CORTADOS, JÓIAS E MÁQUINAS GROSSEIRAS. OUÇO PESSOAS GRITANDO SEM PARAR E COISAS QUE DESAPARECEM. VOLTO SEMPRE NO MESMO MOMENTO AO MESMO LUGAR. ESTOU TODO O TEMPO FUGINDO, E ME DEBATO E FALO DORMINDO.
ACORDE, ACORDE, ACORDE
MEU CARRO AMASSADO PRODUZ A MAIS MODERNA ESCULTURA.
O REFLEXO NOS ESTILHAÇOS PELO ASFALTO SÃO ESTRELAS.
O SANGUE EM MINHA BOCA TEM UM GOSTO DESAGRADÁVEL.
E O PISCA-ALERTA TEM UM BARULHO INSUPORTÁVEL.
FAÇA O QUE FIZER, VOCÊ TEM POUCO TEMPO A PERDER
MEUS SONHOS SÃO TODOS VIOLENTOS, COM ANIMAIS CORTADOS, JÓIAS E MÁQUINAS GROSSEIRAS. OUÇO PESSOAS GRITANDO SEM PARAR E COISAS QUE DESAPARECEM. VOLTO SEMPRE NO MESMO MOMENTO AO MESMO LUGAR. ESTOU TODO O TEMPO FUGINDO, E ME DEBATO E FALO DORMINDO.
ACORDE, ACORDE, ACORDE
MEU CARRO AMASSADO PRODUZ A MAIS MODERNA ESCULTURA.
O REFLEXO NOS ESTILHAÇOS PELO ASFALTO SÃO ESTRELAS.
O SANGUE EM MINHA BOCA TEM UM GOSTO DESAGRADÁVEL.
E O PISCA-ALERTA TEM UM BARULHO INSUPORTÁVEL.
O Reflexo nos Estilhaços de Vidro no Asfalto são Estrelas.
Detalhe do cenário de Autochoque. Foto Laura Cattani
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), 815 mil pessoas se mataram no ano de 2000 em todo o planeta. A cada 40 segundos, alguém se suicida. A OMS classifica o suicídio como “violência autodirigida”. É a terceira, preste atenção, terceira, causa de morte entre pessoas de 15 a 44 anos. Alguns suicídios são mascarados nas estatísticas oficiais, encobertos por outros eventos que são aparentemente acidentais. Como, por exemplo, acidentes de carro causado por jovens que dirigem alcoolizados e em altas velocidades. ”Se você investigar a vida destes jovens semanas ou meses antes de morrer, pode identificar sinais de que algo não ia bem.”
Fonte: Super Interessante, Janeiro de 2003, página 37.
AUTOCHOQUE - Um Ensaio Sobre Impactos
Obras de Dione Veiga Vieira, Grupo Ío e Élcio Rossini
Inaugura no dia 06 de maio, às 19h, na Usina do Gasômetro em Porto Alegre, a exposição AUTOCHOQUE – Um Ensaio Sobre Impactos, com curadoria do grupo Ío.
Laura Cattani e Munir Klamt convidaram os artistas Dione Veiga Vieira, Félix Bressan, Élcio Rossini e Paulo Mog para exporem uma reflexão artística sobre o tema dos deslocamentos, ondas de choque e vivências que deixam marcas, abordados através de instalações, fotografias e vídeos.
A exposição AUTOCHOQUE – Um Ensaio Sobre Impactos é um desdobramento do espetáculo AUTOCHOQUE – Trilha Sonora para Acidentes, do Grupo Ío. Nesta exposição, a memória e a impermanência, o onírico e o real, o corpo e a ausência, o horror e o sublime se entrelaçam, como forças antagônicas sempre em conflito, próximas de desabarem. Os objetivos estéticos dos artistas convidados para esta exposição se dão nesta tensão, cuja poética se constrói por meio da ausência, do estranhamento, do choque.
Laura Cattani e Munir Klamt convidaram os artistas Dione Veiga Vieira, Félix Bressan, Élcio Rossini e Paulo Mog para exporem uma reflexão artística sobre o tema dos deslocamentos, ondas de choque e vivências que deixam marcas, abordados através de instalações, fotografias e vídeos.
A exposição AUTOCHOQUE – Um Ensaio Sobre Impactos é um desdobramento do espetáculo AUTOCHOQUE – Trilha Sonora para Acidentes, do Grupo Ío. Nesta exposição, a memória e a impermanência, o onírico e o real, o corpo e a ausência, o horror e o sublime se entrelaçam, como forças antagônicas sempre em conflito, próximas de desabarem. Os objetivos estéticos dos artistas convidados para esta exposição se dão nesta tensão, cuja poética se constrói por meio da ausência, do estranhamento, do choque.
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Exposição AUTOCHOQUE – Um Ensaio Sobre Impactos
Local: Usina do Gasômetro
Endereço : Av. Presidente João Goulart, 551 – Porto Alegre - RS
Abertura: 6 de maio, 19h
Período de visitação: 7 de maio a 31 de maio de 2010, terças-feiras
a domingos das 14h às 21h, com entrada Franca
Curadoria: Grupo Ío
Artistas: Laura Cattani & Munir Klamt (grupo Ío), Dione Veiga Vieira, Félix Bressan, Élcio Rossini e Paulo Mog.
Local: Usina do Gasômetro
Endereço : Av. Presidente João Goulart, 551 – Porto Alegre - RS
Abertura: 6 de maio, 19h
Período de visitação: 7 de maio a 31 de maio de 2010, terças-feiras
a domingos das 14h às 21h, com entrada Franca
Curadoria: Grupo Ío
Artistas: Laura Cattani & Munir Klamt (grupo Ío), Dione Veiga Vieira, Félix Bressan, Élcio Rossini e Paulo Mog.
Um Musical Sobre Acidentes
A Liberdade, a Justiça, a Democracia? Não. Laura Cattani em Autochoque. Foto: sempre Safi.
Ao final desta temporada de Autochoque, torna-se explícita a força paradoxal que constrói este espetáculo, autodefinido como uma trilha sonora para acidentes (“acidente” aqui deve ser entendido no seu espectro mais amplo. Isto é, o que é casual, fortuito, imprevisto). Ele se estrutura através de forças contrárias e em um certo gosto pelas improbabilidades, sobre este curioso mundo em que casualmente vivemos (e que é assim construído em decorrência da produção serial de Henry Ford - tecnologia importada das armas Colt), sobre perdas, mas também sobre o fato de que qualquer comportamento humano, isolado de seu contexto, torna-se esquisito e engraçado. A total ausência de uma mensagem clara e verdades a serem compartilhadas torna Autochoque assustador, banal, angustiante, engraçado e político (uma política estética é diferente de uma institucional, é antes uma concepção de mundo compartilhada). Reconhecemos que um musical sobre acidentes em que o foco está em uma certa beleza mecânica da energia cinética de um carro destruído, sobre a sofisticação de nosso corpo assimilando os impactos e sobre ironia (ironia aqui entendida como a multiplicidade de visões sobre um fato) não tem como seguir uma lógica cartesiana e, como previsto, Autochoque constrói a sua própria moralidade. A Ío organiza seus trabalhos de uma maneira em que forças antagônicas estejam sempre em conflito, próximas de desabarem. Nossos objetivos estéticos se dão nesta tensão improvável. Tão improvável quanto usar acidentes automobilísticos como tema de um musical ou usar um prédio como um instrumento sonoro.
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